sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

VII Domingo do Tempo Comum - B

As leituras deste Domingo decorrem mais uma vez sob o signo da cura. Os milagres de Jesus, sinais da Sua bondade e do Seu poder, reflexos de um Deus que, como rezamos no Credo, é Pai e Todo-Poderoso, mostravam a todos aqueles que O rodeavam – e mostram-nos hoje a nós – que, com fé, o Homem é capaz de superar dificuldades e vencer resistências. Seremos nós capazes de pegar na nossa enxerga e ir para casa? Peçamos ao Senhor essa capacidade, para assim construirmos um mundo melhor, mais justo, com mais caridade.


A Caminho

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

V DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Evangelho Mc 1, 29-39

Naquele tempo, Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou- Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los. Ao cair da tarde, já depois do sol-posto, trouxeram-Lhe todos os doentes e possessos e a cidade inteira ficou reunida diante da porta. Jesus curou muitas pessoas, que eram atormentadas por várias doenças, e expulsou muitos demónios. Mas não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. De manhã, muito cedo, levantou-Se e saiu. Retirou-Se para um sítio ermo e aí começou a orar. Simão e os companheiros foram à procura d’Ele e, quando O encontraram, disseram-Lhe: «Todos Te procuram». Ele respondeu-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim». E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas e expulsando os demónios.

Reflectindo o Evangelho

“Não sei como é que Deus permite que aquela pessoa sofra tanto!”; aquela pessoa não merecia sofrer tanto…”; “que mal fiz eu a Deus para sofrer tanto?!”… São expressões que todos nós já ouvimos ou mesmo pronunciamos. O mesmo se passa com Job, que desabafa o seu duro sofrimento: “recebi em herança meses de desilusão”(1ª Leitura). Deus não ignora o nosso sofrimento. Contudo, também não temos uma resposta plena para este grande mistério. O que podemos ter a certeza é que Deus nos ama a cada um indistintamente e quer para cada um de nós a felicidade, ainda que à primeira vista possa parecer ilógico aos nossos raciocínios. Prova disso é que Jesus realizou, realiza e realizará milagres em favor de toda a humanidade. E fá-lo com dois objectivos: ou para premiar a fé ou para provocar a fé, mas sempre no contexto e com a orientação do anúncio da mensagem do Evangelho: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que eu vim” (ver Evangelho).

Queixámo-nos com frequência de que Deus está ausente ao drama do ser humano, que Deus está longe e que é indiferente ao homem e à mulher, que Deus permitiu aquela grande catástrofe, que Deus podia ter evitado os ataques terroristas na América em 2001. Mas, por outro lado, queremos que Deus não interfira na nossa vida, pois a sua doutrina limita a nossa liberdade, queremos extinguir os crucifixos das escolas e dos hospitais, temos medo de testemunhar e de nos afirmarmos como cristãos, somos indiferentes quando nos “atacam” os princípios cristãos que defendemos… Não esqueçamos: “ai de mim se não evangelizar” (2ª leitura). Eis o grande imperativo em que qualquer cristão está inserido. Não sejamos tíbios nem indiferentes nem detentores de um conjunto de verdades mas, pelo testemunho de vida, sejamos este “alarme” que está activo vinte e quatro horas por dia, tendo consciência de que somos fracos, mas que é pela nossa fraqueza e com a fraqueza dos outros que, todos juntos, nos tornamos fortes.

Vivendo o Evangelho

“Todos Te procuram”. Que estas palavras possam também ser aplicadas a cada um de nós, ao longo da nossa vida. Que os outros possam ver em nós um reflexo do Deus em que acreditamos. Que possamos transmitir e dar aos outros uma verdadeira consolação, alegria e esperança, com um prisma diferente daquele que o mundo pode dar. Que os outros sintam a necessidade de estar connosco, pois temos realmente algo de novo para oferecer: Jesus Cristo. Mas não esqueçamos que ninguém pode dar aquilo que não tem. Por isso, só com uma procura assídua de Jesus Cristo e da Sua Palavra isto se poderá concretizar.

A caminho

Tempo Quaresmal e Pascal




Mensagem de D. Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga

“Saulo viu-se repentinamente cercado por uma luz que vinha do céu. Caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Saulo perguntou: “Quem és Tu, Senhor?” A voz respondeu: “Eu sou Jesus a Quem tu persegues. Agora levanta-te, entra na cidade, e aí te dirão o que deves fazer”… (Act 9, 3-6)

Em Ano Paulino descortinamos os momentos fundamentais da Vida de S. Paulo. Tudo, para ele, obteve um sentido diferente quando foi encontrado pela Palavra, no caminho de Damasco.

No momento não conseguia “ver nada”; posteriormente, “recuperou” uma liberdade radical que o colocou numa doação de vida a Cristo sem condições ou interpretações pessoais. Quis viver Cristo e entregou-se para que outros iniciassem idêntica experiência.

A Quaresma é um tempo particular para entrarmos, mais intensamente, no espírito do nosso Programa Pastoral. Sugiro dois itinerários que retiro das palavras de Cristo a Saulo:

1º “Levanta-Te”

O cristianismo, para muitos, corre o risco de se tornar uma mera repetição de costumes e tradições. Urge que nos “levantemos”, com o sacrifício e o simbolismo desta atitude, a fim de criar disponibilidade interior para um encontro com a Palavra. Suscitando as condições necessárias, seremos encontrados, no mundo das opções fundamentais, por uma contínua aurora de coisas desconhecidas que nos encantarão e abrirão horizontes desconhecidos.

Deixar-se encontrar pela Palavra é algo de muito pessoal a exigir que calemos outros barulhos para começar a “ver” dum modo diferente. Com os outros poderemos dar à Voz da Palavra o volume duma compreensão maior. “Te dirão o que deves fazer”; é apelo ao encontro com outros em trabalho de reflexão e oração bíblica.

2º “Entra na cidade”

O levantar-se para fugir aos ruídos e deixar-se encontrar pela Palavra leva consigo o convite para que entremos, também, na cidade dos homens, ou seja, em todo o lugar onde vive qualquer ser humano. A Voz da Palavra ouve-se nos lamentos das pessoas e nos dramas da sociedade. Só com a Palavra de Deus conseguiremos ouvir a “voz” do Povo, dar-lhe o bálsamo para a dor e o segredo para ultrapassar as crises. A Palavra gera esperança e compromete na solidariedade activa.

Encontrados pela Palavra, descortinaremos coisas e necessidades que são supérfluas e poderemos partilhar com renúncias que mostrem a força da mesma Palavra.

Entrando nas nossas cidades e aldeias, veremos que é possível dar razões para viver aos sem abrigo, aos pobres, aos doentes terminais…

2.1 – Finalidade da Renúncia Quaresmal

A partilha, fruto da Renúncia, será, este ano, orientada para uma iniciativa:

A criação dum espaço capaz de recolher, durante todo o ano, tudo o que seja útil aos pobres (material) e que, para nós, seja desnecessário. Ao mesmo tempo, ampliaremos o refeitório Social e criaremos um local para acolhimento temporário de carenciados. A Caritas Arquidiocesana dará a estes espaços uma solicitude caritativa aberta a todos os arciprestados e comunidades paroquiais. Chamar-lhe-emos Casa Alavanca (C.A.). Como o nome sugere, pretende ajudar a erguer-se e avançar com esperança.

2.2 – Voluntariado para testemunhar Cristo Vivo

Levantar-se para se deixar encontrar pela Palavra e entrar na cidade dos homens com os seus dramas deverá orientar a caminhada Quaresmal e Pascal das nossas comunidades: a Quaresma com “abstinências” e “jejuns” do supérfluo numa vida pautada pela sobriedade; o tempo Pascal como apelo à criatividade e concretização de iniciativas que manifestem Cristo Vivo e Ressuscitado a intervir na Salvação integral de todos os homens e mulheres das nossas comunidades. Os carenciados devem ser identificados e a solidariedade terá de ser criativa. Recordo os desempregados, particularmente os envergonhados, que, com toda a certeza, será um grupo social a necessitar de atenção. A situação social pede alguma coisa dos cristãos.

Dar é importante mas dar-se é a verdadeira explicitação da Palavra de Deus. É um imperativo da vocação e missão dos cristãos. Daí que nos tempos difíceis e em época de conversão deixe, ainda, um apelo para uma renovada experiência de voluntariado ao jeito de Cristo que deu a Sua Vida. Só estruturando uma verdadeira rede de voluntariado, activo e comprometido, poderemos ser sinais de Cristo, como Paulo. Que os sacerdotes aproveitem as circunstâncias de reflexão para motivar e comprometer, aumentando e estruturando o número daqueles que já encontram ou irão encontrar tempo para dar à comunidade.

Para expressar a ideia duma solidariedade em rede, gostaria que cada comunidade tivesse um grupo que poderia chamar-se Voluntariado em Movimento (V.E.M.). Para além do grupo, promova-se uma formação específica capaz de dar ânimo e coragem para que o desânimo nunca aconteça.

Com este itinerário, o tempo Penitencial da Quaresma e a alegria do anúncio Pascal dum Cristo Ressuscitado demonstrarão que a Vida com dignidade para todos é possível, desde que queiramos percorrer o caminho de toda a mensagem cristã que o “tomar conta” da Palavra exige.

Braga, 2 de Fevereiro, Nossa Senhora da Luz, de 2009

Jorge Ferreira da Costa Ortiga, A.P..

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Quaresma 2009



MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
O PAPA BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2009

Queridos irmãos e irmãs!

No início da Quaresma, que constitui um caminho de treino espiritual mais intenso, a Liturgia propõe-nos três práticas penitenciais muito queridas à tradição bíblica e cristã – a oração, a esmola, o jejum – a fim de nos predispormos para celebrar melhor a Páscoa e deste modo fazer experiência do poder de Deus que, como ouviremos na Vigília pascal, «derrota o mal, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, a alegria aos aflitos. Dissipa o ódio, domina a insensibilidade dos poderosos, promove a concórdia e a paz» (Hino pascal). Na habitual Mensagem quaresmal, gostaria de reflectir este ano em particular sobre o valor e o sentido do jejum. De facto a Quaresma traz à mente os quarenta dias de jejum vividos pelo Senhor no deserto antes de empreender a sua missão pública. Lemos no Evangelho: «O Espírito conduziu Jesus ao deserto a fim de ser tentado pelo demónio. Jejuou durante quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome» (Mt 4, 1-2). Como Moisés antes de receber as Tábuas da Lei (cf. Êx 34, 28), como Elias antes de encontrar o Senhor no monte Oreb (cf. 1 Rs 19, 8), assim Jesus rezando e jejuando se preparou para a sua missão, cujo início foi um duro confronto com o tentador.

Podemos perguntar que valor e que sentido tem para nós, cristãos, privar-nos de algo que seria em si bom e útil para o nosso sustento. As Sagradas Escrituras e toda a tradição cristã ensinam que o jejum é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele induz. Por isto, na história da salvação é frequente o convite a jejuar. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura o Senhor comanda que o homem se abstenha de comer o fruto proibido: «Podes comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás» (Gn 2, 16-17). Comentando a ordem divina, São Basílio observa que «o jejum foi ordenado no Paraíso», e «o primeiro mandamento neste sentido foi dado a Adão». Portanto, ele conclui: «O “não comas” e, portanto, a lei do jejum e da abstinência» (cf. Sermo de jejunio: PG 31, 163, 98). Dado que todos estamos estorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o jejum é-nos oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor. Assim fez Esdras antes da viagem de regresso do exílio à Terra Prometida, convidando o povo reunido a jejuar «para nos humilhar – diz – diante do nosso Deus» (8, 21). O Omnipotente ouviu a sua prece e garantiu os seus favores e a sua protecção. O mesmo fizeram os habitantes de Ninive que, sensíveis ao apelo de Jonas ao arrependimento, proclamaram, como testemunho da sua sinceridade, um jejum dizendo: «Quem sabe se Deus não Se arrependerá, e acalmará o ardor da Sua ira, de modo que não pereçamos?» (3, 9). Também então Deus viu as suas obras e os poupou.

No Novo Testamento, Jesus ressalta a razão profunda do jejum, condenando a atitude dos fariseus, os quais observaram escrupulosamente as prescrições impostas pela lei, mas o seu coração estava distante de Deus. O verdadeiro jejum, repete também noutras partes o Mestre divino, é antes cumprir a vontade do Pai celeste, o qual «vê no oculto, recompensar-te-á» (Mt 6, 18). Ele próprio dá o exemplo respondendo a satanás, no final dos 40 dias transcorridos no deserto, que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus» (Mt 4, 4). O verdadeiro jejum finaliza-se portanto a comer o «verdadeiro alimento», que é fazer a vontade do Pai (cf. Jo 4, 34). Portanto, se Adão desobedeceu ao mandamento do Senhor «de não comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal», com o jejum o crente deseja submeter-se humildemente a Deus, confiando na sua bondade e misericórdia.

Encontramos a prática do jejum muito presente na primeira comunidade cristã (cf. Act 13, 3; 14, 22; 27, 21; 2 Cor 6, 5). Também os Padres da Igreja falam da força do jejum, capaz de impedir o pecado, de reprimir os desejos do «velho Adão», e de abrir no coração do crente o caminho para Deus. O jejum é também uma prática frequente e recomendada pelos santos de todas as épocas. Escreve São Pedro Crisólogo: «O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza jejue. Quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto em seu benefício o coração de Deus não feche o seu a quem o suplica» (Sermo 43; PL 52, 320.332).

Nos nossos dias, a prática do jejum parece ter perdido um pouco do seu valor espiritual e ter adquirido antes, numa cultura marcada pela busca da satisfação material, o valor de uma medida terapêutica para a cura do próprio corpo. Jejuar sem dúvida é bom para o bem-estar, mas para os crentes é em primeiro lugar uma «terapia» para curar tudo o que os impede de se conformarem com a vontade de Deus. Na Constituição apostólica Paenitemini de 1966, o Servo de Deus Paulo VI reconhecia a necessidade de colocar o jejum no contexto da chamada de cada cristão a «não viver mais para si mesmo, mas para aquele que o amou e se entregou a si por ele, e... também a viver pelos irmãos» (Cf. Cap. I). A Quaresma poderia ser uma ocasião oportuna para retomar as normas contidas na citada Constituição apostólica, valorizando o significado autêntico e perene desta antiga prática penitencial, que pode ajudar-nos a mortificar o nosso egoísmo e a abrir o coração ao amor de Deus e do próximo, primeiro e máximo mandamento da nova Lei e compêndio de todo o Evangelho (cf. Mt 22, 34-40).

A prática fiel do jejum contribui ainda para conferir unidade à pessoa, corpo e alma, ajudando-a a evitar o pecado e a crescer na intimidade com o Senhor. Santo Agostinho, que conhecia bem as próprias inclinações negativas e as definia «nó complicado e emaranhado» (Confissões, II, 10.18), no seu tratado A utilidade do jejum, escrevia: «Certamente é um suplício que me inflijo, mas para que Ele me perdoe; castigo-me por mim mesmo para que Ele me ajude, para aprazer aos seus olhos, para alcançar o agrado da sua doçura» (Sermo 400, 3, 3: PL 40, 708). Privar-se do sustento material que alimenta o corpo facilita uma ulterior disposição para ouvir Cristo e para se alimentar da sua palavra de salvação. Com o jejum e com a oração permitimos que Ele venha saciar a fome mais profunda que vivemos no nosso íntimo: a fome e a sede de Deus.

Ao mesmo tempo, o jejum ajuda-nos a tomar consciência da situação na qual vivem tantos irmãos nossos. Na sua Primeira Carta São João admoesta: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como estará nele o amor de Deus?» (3, 17). Jejuar voluntariamente ajuda-nos a cultivar o estilo do Bom Samaritano, que se inclina e socorre o irmão que sofre (cf. Enc. Deus caritas est, 15). Escolhendo livremente privar-nos de algo para ajudar os outros, mostramos concretamente que o próximo em dificuldade não nos é indiferente. Precisamente para manter viva esta atitude de acolhimento e de atenção para com os irmãos, encorajo as paróquias e todas as outras comunidades a intensificar na Quaresma a prática do jejum pessoal e comunitário, cultivando de igual modo a escuta da Palavra de Deus, a oração e a esmola. Foi este, desde o início o estilo da comunidade cristã, na qual eram feitas colectas especiais (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27), e os irmãos eram convidados a dar aos pobres quanto, graças ao jejum, tinham poupado (cf. Didascalia Ap., V, 20, 18). Também hoje esta prática deve ser redescoberta e encorajada, sobretudo durante o tempo litúrgico quaresmal.

De quanto disse sobressai com grande clareza que o jejum representa uma prática ascética importante, uma arma espiritual para lutar contra qualquer eventual apego desordenado a nós mesmos. Privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos e de outros bens materiais, ajuda o discípulo de Cristo a controlar os apetites da natureza fragilizada pela culpa da origem, cujos efeitos negativos atingem toda a personalidade humana. Exorta oportunamente um antigo hino litúrgico quaresmal: «Utamur ergo parcius, / verbis, cibis et potibus, / somno, iocis et arcitius / perstemus in custodia – Usemos de modo mais sóbrio palavras, alimentos, bebidas, sono e jogos, e permaneçamos mais atentamente vigilantes».

Queridos irmãos e irmãos, considerando bem, o jejum tem como sua finalidade última ajudar cada um de nós, como escrevia o Servo de Deus Papa João Paulo II, a fazer dom total de si a Deus (cf. Enc. Veritatis splendor, 21). A Quaresma seja portanto valorizada em cada família e em cada comunidade cristã para afastar tudo o que distrai o espírito e para intensificar o que alimenta a alma abrindo-a ao amor de Deus e do próximo. Penso em particular num maior compromisso na oração, na lectio divina, no recurso ao Sacramento da Reconciliação e na participação activa na Eucaristia, sobretudo na Santa Missa dominical. Com esta disposição interior entremos no clima penitencial da Quaresma. Acompanhe-nos a Bem-Aventurada Virgem Maria, Causa nostrae laetitiae, e ampare-nos no esforço de libertar o nosso coração da escravidão do pecado para o tornar cada vez mais «tabernáculo vivo de Deus». Com estes votos, ao garantir a minha oração para que cada crente e comunidade eclesial percorra um proveitoso itinerário quaresmal, concedo de coração a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 11 de Dezembro de 2008.

BENEDICTUS PP. XVI